segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Meu EU Insano


“Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!”

Com este verso de Clarice Lispector, defino meu outro eu. Toda a intensidade e overdose de vibrações e sentimentos que este verso descreve, consigo expressar muito do que eu seja.

Embora não seja notável, existe dentro de mim um outro Pedro. Um Pedro mais intenso, mais expressivo, que anseia por liberdade, que dirige na contra-mão, que quer curtir ao invés de viver, que não se prende, apenas se entrega, que sente saudade das farras que nunca fez, da ressaca incurada que nunca teve, do sexo ardente que nunca experimentou, de cair em uma pista que nunca dançou, dos vários telefonemas que nunca retornou e de pular nu numa cachoeira sem o menor pudor.

Todos estes desejos, vem de um eu interior. As vezes penso que este eu, é um tirano querendo se rebelar contra os padrões da sociedade e contra a cultura na qual está inserido.Um eu aprisionado na mente e no corpo querendo em simples gestos expressar essa liberdade tão Sonhada.

Talvez os fundamentalistas falem que esse “Eu” seja uma manifestação de algo sobrenatural, que talvez eu seja um endemoniado ao usar esse termo “Tirano em minha mente”. E talvez para os psicólogos, seja apenas excesso de testosterna e adrenalina, completamente normal na vida de um jovem. Mas acalmem-se, não estou endemoniado e nem louco. Tudo isso é apenas EU.

Mas confesso que as vezes tenho medo desse Pedro que habita no meu inconsciente. Todos sabemos que não existe forma mais evidente de se enfurecer uma fera quando a aprisionamos. Tenho medo que ela se enfureça por tomar tantas doses de moralismo, altruísmo e sobretudo, Cristianismo. É um contraste muito grande entre o Pedro racional, sereno, compassivo e de grande auto-controle que é mais conhecido e que anda livremente nas ruas, lutando contra o Pedro inconseqüente, instintivo e talvez pouquíssimo insinuado.
E numa tentativa de dominar e mostrar que tenho maior força acabo cutucando esta fera com vara curta, pra ver se o castigo prometido talvez venha (palavras de Bial). E sabem o que é pior? O castigo vem. A fera pode até continuar presa, mas ela me fere, machuca, oprime, desmotiva e desencoraja.

E nessa horas, eu me lembro de uma palavrinha peculiar, muito falada mas não tão compreendida chamada GRAÇA. Me lembro do seu significado e do poder que ela tem e olho novamente pra dentro de mim, e sabe o que vejo? Nada. Não vejo o Pedro bacaninha nem o Pedro insano. Eu vejo o Espírito Santo de Deus, que habita dentro de mim, e que não impede de todos estes desejos de se insurgirem nem de ouvir os gritos da fera aprisionada. Mas Ele se manifesta, quando EU, o Pedro consciente, admite que sozinho não pode lutar contra algo tão grande, porque afinal, estou lutando contra mim mesmo; contra meus próprios instintos humanos. Então desisto de tentar, desisto de lutar, e peço a Deus que assuma a frente de batalha, e lute por mim e para mim. E acredite, Ele sempre vence. E então aquela fera tirana e inconsequente, se cala, e se recolhe.

O erro que cometo, é que ao invés de que sempre quando houver estes conflitos internos, ao invés de imediatamente clamar a Deus por socorro e pedir que Ele assuma a batalha e lute por mim, eu simplesmente entrego à fera a chaves da gaiola e digo: Dê uma volta, mas não demore ok? Mesmo sabendo que quando ela volta, o estrago já foi feito. Aí já é tarde. E tudo o que encontro, é sentimento de culpa e remorso. Meu erro é nunca aprender que errar, é uma escolha; Que sou fraco demais para tentar negociar com meus desejos um breve prazer pra anestesiar os instintos. Sou um mero ser humano, como qualquer outro, que por tão pouco troca o certo pelo incorreto. O mal que eu não quero é o que faço e o bem que eu quero, não faço.

Numa briga como essa, qual lado você escolheria? Daria vazão a quem? Talvez a fera instintiva pareça mais atraente, mais provocante, mais plena, mais feliz... Mas sabe qual é a verdade? Ainda que eu libertasse essa fera, seus desejos, anseios, e instintos, ainda que realizasse cada uma de suas fantasias e seus jogos, ainda que saciasse toda sua sede, na realidade, uma hora essa fera iria se cansar. E por mais que buscasse se satisfazer mais, ela não seria plenamente feliz. Poderia até chegar ao ápice de alegria e de prazer, mas teria um prazo de validade. Uma hora teria fim.

Também não devo buscar uma forma de aniquilar essa fera. Ela não é promíscua, ela não é do mal, é apenas eu. E eu posso conviver bem comigo mesmo, sem precisar estar em conflitos o tempo todo. A questão é redirecionar tanta energia e adrenalina em ações que contribuam para o meu bem e para o bem dos outros.
E na hora certa, e de forma dosada, poderei destruir essa gaiola que aprisiona essa fera, convivendo em paz comigo mesmo, sem me sentir culpado. Com o tempo, com maturidade, com experiência e com responsabilidade, vou poder olhar pra dentro de mim e não ver fera nenhuma, não ver insano nenhum. Todo o meu eu, estará mesclado dentro dele mesmo, onde o fator determinante, será o equilíbrio.

Ou não né? Porque escrever textos como estes, nos ajuda a nos entender melhor. Mas as vezes pra fazer um fechamento; um acabamento, acabamos criando possíveis soluções que talvez na prática não funcione tanto. E nessa tentativa de dar um sentido completo a um texto podemos acabar criando pró-formas que darão um caráter lúdico; uma espécie de final feliz. Mas como a realidade é bem diferente, encerro aqui. Por hora é só.

p.s: Se você não entendeu o que quis dizer, lamento. Não se esqueça, o blog se chama entrelinhas.

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