sexta-feira, 13 de abril de 2012

Por que mesmo eu saí da caverna?





Que deslumbrante é a vida aqui fora. Olhos pesados acostumados com a penumbra da caverna, mal conseguem ficar aberto diante de tanta luz. Luz que clareia não só os olhos, mas também a mente e o corpo. Luz que aquece tanto o corpo que o calor, converte-se em sede de viver tudo. 


Perfeitamente coeso, o convite de Platão para sair da caverna, se dirige àqueles que querem ver mais do que sombras; querem observar; contemplar; perceber; elaborar; reelaborar; construir; desconstruir e, sobretudo, conhecer. Essa é a promessa para aqueles que buscam se tornarem seres pensantes, formadores de opinião e esclarecidos. É perturbador e provocante. 

Eu fui. Dei um salto. Um salto não, um duplo mortal carpado e mergulhei no desconhecido; no mundo das ideias. Como eu disse, é provocante, excitante, encantador e perturbador. Com tantas questões na minha cabeça, hoje me ocorreu a seguinte pergunta: Por que mesmo eu saí da caverna? De fato, a caverna é limitada, mas é segura. Lá, a visão que eu tinha de Deus, do mundo e minha eram extremamente pequena, fechada e os conceitos estavam devidamente organizados. Mas a vida que eu tinha, embora hoje pareça pequena, me bastava; me preenchia, eu estava em paz e me sentia seguro e protegido. 

Hoje leio “em paz me deito e logo pego no sono” e penso: Ah, como eu queria. Tem um tirano implacável na minha mente que não dá trégua, não descansa, se alimenta de respostas e resoluções. Um tirano tão tirano que se pudesse eliminava o filtro do subconsciente com o ego. Me abri tanto pro mundo das possibilidades que hoje só encontro incertezas. O problema de abrir a mente, é que ao mesmo tempo em que novas idéias podem entrar, as já estabelecidas podem sair. É como se nada fosse fixo, tudo é flutuante e despendido. 

O meu semblante naturalmente expressa ‘Estou perdido’. Mas embora a saudosa caverna aparente ser mais segura, é impossível voltar. Não me cabe mais; não me preenche. Aliás, está difícil achar um lugar aqui nesse mundo onde eu realmente me encontre. Vou continuar caminhando, viajando... é em toda essa viajem percorrida que se encontra obra-prima pra se construir esse lugar que é meu. Estou lendo Grande sertão: Veredas (tá, eu não estou lendo Guimarães Rosa para me auto afirmar como intelecto até porque não sou) e gostei de uma frase que diz assim: “Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.” Sábias palavras. E é isso mesmo. A busca por descobrir o que é a vida, todas essa angustia de se perder e se encontrar, já é a própria vida. É ela que se desenha a partir da busca dela mesma. Por isso, ainda assim, acredito que a vida nunca esteve tão interessante. 

*Atenção telespector, não repita isto em casa. Só saia da caverna, se tiver peito pra bancar sua escolha, afinal, viver é muito perigoso.