quinta-feira, 24 de maio de 2012

Namorar pra quê?




Tenho recebido milhares de cartas, telegramas e e-mails do Brasil inteiro, de fiéis leitores questionado o porquê de não escrever nem falar mais sobre o amor (mentira, na verdade foram 8 no máximo). Na verdade, parei de falar sobre amor simplesmente porque não tinha mais nada a dizer sobre isso. Todo mundo fala de amor o tempo todo, e toda a contribuição inexpressiva e inexperiente que eu tinha a dizer sobre o tema se esgotaram ou perderam o sentido. Só decidi retoma-lo porque faltou uma coisa essencial que não havia aprendido nos meus melancólicos dias de Pierrot.

Ah, o namoro... quem não quer ter aquela pessoa com quem você possa compartilhar sua vida; receber SMS de bom dia; ter uma música que a lembre; ter alguém que te faça sentir o cara mais bobo, porem mais incrível do mundo; aquela pessoa que faz com que tudo faça sentido, e ao mesmo tempo nada. Quem nunca? (Se você não procura nada disso, por gentileza, vá até o canto superior direito da tela e clica no X)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Rio por onde a vida passa




“Ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos coração sábio.” (Sl. 90:12) 
O tempo para alguns apenas passa, para outros, ensina, para outros cura e para outros acabam. Hoje completo 21 anos, e em todos os meus aniversários eu sempre costumo refletir muito sobre a vida; sobre o tempo. Muitos foram somente mais um aniversário; mais um ano de vida. Não este. Não a data em si, mas pelo que este ano tem significado pra mim: O encerramento de um longo ciclo e início de um novo tempo. 

Guimarães Rosa, em Grande sertão: Veredas (Estou até hoje o citando porque ainda não acabei de ler, leitura muito difícil. Risos) fala muito sobre rios; águas. É um paralelo sobre a vida interessante. Em uma frase ele diz: “A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou...” Nesse processo de crescimento e maturidade, vejo a vida passando como um rio. Dei saltos, me afoguei, senti a mão de Deus me trazendo à superfície para buscar fôlego, me afoguei de novo, mas nunca parei de nadar. Fora a angustia de saber o que se encontrará na outra margem do rio. G. Rosa ainda diz que “... o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” 
Sabem o que reparei nessa exaustiva travessia? A bagagem. Bagagem que carregamos e o quanto o seu peso pode nos levar para baixo e nos afogar. Abri essa mala e vi quanta coisa tinha dentro. Vi todas as marcas da infância que permaneciam incicatrizáveis, vi os traumas não superados, vi pessoas que nunca pude dizer adeus guardadas em porta-retratos, vi todas as palavras que ficaram por dizer e acabaram engasgadas, vi quanto lixo estava varrido para debaixo de um tapete que não comportava mais tanta sujeira. Tive que fazer uma escolha: Ou abria mão dessa bagagem ou afundava com ela. (Parece óbvio em um texto, mas é complexo) 

Eu não sei porquê as pessoas guardam esse tipo de lixo emocional, como se isso pudesse de alguma forma mudar o passado, ou trazer de volta o que o tempo levou. Sei que tudo isso é muito clichê, mas o óbvio é muitas vezes o mais difícil de compreender e aceitar. Como por exemplo, o fato de que lixo orgânico não se recicla, pois ele é tóxico, apodrece e cria fungos. E é por isso que eu precisei abrir mão desse lixo; dessa bagagem emocional. Doeu, chorei, pois embora pesado, já havia me acostumado com aquele fardo; aquela bagagem que servia como um analgésico para fugir da realidade. (masoquismo isso? Talvez.) Eliminar um lixo emocional, não é apagar sua história, é apenas uma forma de se esvaziar de um peso desnecessário (é como uma higienização interior). 

Se eu tivesse a oportunidade de voltar ao passado e mudar tudo; mudar escolhas que nem foram minhas, mas que trouxeram consequências e marcas pra minha vida e mudar as escolhas erradas que fiz, a vida que eu teria hoje não seria minha. Se a vida que tivéssemos fosse a vida que queríamos ter, não seria nossa; não teria a autenticidade daquilo que somos; Excluiria toda a nossa individualidade. 

Ainda sobre o prisma do rio, Heráclito de Éfeso disse que “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. “  É exatamente isso. As águas do rio correm. As que você pulou, nadou, se afogou hoje, não as mesmas de ontem nem de amanhã. O que ficou pra trás, não há como mudar, pois nós já mudamos e as coisas já mudaram. Só consegui entender isso quando me permiti a deixar que as águas levassem aquele fardo para fundo do rio e continuar nadando, agora com os dois braços, mais leve, com mais vigor e mais fôlego. E sem menos esperar (não esperava mesmo) eis que vejo a outra margem do rio. Cheguei sem nada, pronto pra viver um novo tempo. Me dispus a viver coisas novas, sentir coisas que meu coração já não se permitia ha muito tempo e descobrir o que há de novo. Isso é a vida: Essa metamorfose; transição; travessias e recomeços. Sou grato a Deus por esses 21 anos e porque nEle está minha esperança, força para nunca desistir de tentar e por me fazer visualizar novas possibilidades. Até aqui nos Ajudou o Senhor. Cheguei a outra margem do rio, sem saber o que vou encontrar, mas com a sensação de já ter me encontrado. Mergulhei no rio menino e saí dele um homem que ao invés de usar o passado para se justificar, o usou para se fortalecer. E é a minha história que me fez ser o que sou hoje. O que vem pela frente é sempre incerto, mas uma coisa eu sei: Há novos sonhos do lado cá.

“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.” - Guimarães Rosa