segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ame-o ou Deixe-o




p.s.: Este texto não tem nenhuma conotação espiritual. Vocês que tem o hábito de espiritualizar tudo, recomendo lerem Zibia Gasparetto e Paulo Coelho, grato.

“... você tá vivo, e essa vida é pra se mostrar. Esse é o meu espetáculo. Só quem se mostra se encontra. Por mais que se perca no caminho.”
 (Cazuza)

Eu tenho mudado muito desde o inicio da faculdade, não sei se pelo curso em si ou pelo amadurecimento mesmo. Talvez os dois. Mas eu não tenho me reconhecido. Eu sinto tantas coisas ao mesmo tempo e alternadamente que não tenho conseguido administrar. É amor, é raiva, é decepção, é satisfação, descrença, fé, indiferença, altruísmo, sarcasmo, compaixão, insegurança, autoconfiança, orgulho, humildade, aflição, instinto, incerteza, euforia, paz... Como todos estes sentimentos podem habitar em um corpo só? O cansaço e a fadiga refletem uma mente extremamente cansada que não descansa nem durante o sono.

Refletindo mais sobre minha vida e sobre o que esteja desencadeando tantas alterações comportamentais, e sobre o que tem movido esse carrinho de montanha-russa da vida, me ocorreu a palavra sistema.
O dicionário Aurélio, define sistema como a reunião de princípios coordenados de modo a formar uma doutrina; Combinação de partes que, coordenadas, concorrem para certo fim; Forma de organização administrativa, política, social ou econômica.

Um ‘um’ sozinho fraco, somado a vários ‘uns’ formam um todo forte. Viver dentro de um sistema; dentro de uma associação; viver no coletivo é necessário, mas não é fácil. Viver junto é muito complicado, implica em ter que abrir mão de uma parcela de você para a harmonia do grupo. Eu nunca fui casado, nunca namorei, mas acho que essa deve ser a parte mais complicada de uma vida a dois. Você não pensa mais só por você, você pensa também pelo outro; os programas já não dependem só de você, mas também do outro. Viver junto é estar disposto a ceder...

Meus amigos dizem que o que eles mais gostam em mim é minha espontaneidade, autenticidade e sinceridade. De fato, fazendo uma auto-análise eu acho que tenho todo um jeito pedrovidio de ser, que não sei definir mas sei quem é. O que sinto as vezes, é que tenho sido muito menos do sou por viver preso a um sistema. Não sei se um sistema pra se auto-afirmar tem que globalizar as pessoas de forma que elas se tornem parecidas, mas é assim que eu me sinto. O sistema dita as regras, diz como você deve ser, como deve falar, como deve agir, e como deve viver. Daí eu pergunto: Por que nós, seres pensantes, formadores de opinião cedemos a tudo que o sistema dita?
Porque somos parte dele. Nós vivemos dentro dele, o alimentamos e o sustentamos. E ele em troca, oferece proteção na zona de conforto à aqueles que tem medo de ousar e arriscar.

Ah,  Como eu queria ser tudo o que eu queria ser. Não precisar ter que me reduzir a uma idéia para agradar a todos, poder expressar minhas verdades e meus princípios, ainda que contrário ao senso comum, estaria sendo eu mesmo. Somos constantemente objetos de análise. As pessoas estão nos lendo o tempo todo, cada expressão, cada gesto mais ousado, só esperando alguma atitude inesperada para lhe julgar e te arrastar pela Medina (nossa, eu sempre quis usar esse termo ‘arrastar pela Medina’ numa dissertação, risos) Por falar nisso, acho que o período pós-moderno esta acabando e dando espaço para o Re-Renascentismo. Mas não o renascentismo do resgate dos valores Greco-romanos e sim resgate da idade média. Muita gente anda preocupada com a venda de indulgência que está voltando com tudo, super tendência. Mas o que me assola mesmo é o medo da inquisição arrombar a porta a qualquer momento e me lançar na fogueira porque não quero ser aquilo que vocês querem que eu seja.

Eu não quero títulos, eu não quero rótulos, eu não quero convenções, eu não quero sistemas, eu não quero ritos, eu não quero clichês, eu não quero quatro paredes.
Eu quero liberdade, eu quero diálogos, eu quero troca de idéias, quero dormir com minha caixa de conceitos aberta para reelaborá-los pela manhã, eu quero culturas, quero diversidade, quero estilos, quero abertura, espaço e inclusão, não quero falar do amor, quero expressar o amor, eu quero possibilidades.

 As pessoas dizem o tempo todo “Seja você mesmo!” mas o que elas querem dizer na verdade é “Seja você mesmo mas nem tanto”. Ser você mesmo assusta, gera escândalo. Afinal, o sistema foi criado para trazer ordem. Eu queria poder dizer o quanto estou perdido, o quanto estou assustado, sem perspectiva, o quanto me sinto incompreendido e sozinho, o quanto me sinto grato por ter tudo, mas sentindo que ainda um tudo me falta, o quanto estou com medo de errar, o quanto estou inseguro em relação a onde este rio por onde corre a vida vai desaguar, eu queria poder rir espontaneamente sem que as pessoas tivessem vergonha do escândalo da minha risada. Eu queria dizer tudo isto, como eu realmente me sinto, mas aí eu me lembro que preciso parecer forte, seguro, de fé inabalável, pois preciso transmitir coerência para as pessoas.

Tentando descobrir se é possível viver sozinho, descobrir algumas coisas sozinho, resolvi fugir de tudo isso um pouco, decidi meio que do nada e aleatoriamente ir sozinho para Salvador, passar uns dias pensando e tentando fugir um pouco de tudo, descansando a mente, conhecendo pessoas e possibilidades novas, dialogando com outras culturas... enfim sei lá. É só uma tentativa de me reinventar e provar pra mim que sou capaz de muitas coisas que acho que não sou e porque em algum lugar sinto que daqui pra frente vou ter que andar por um tempo sozinho, conviver com minha própria companhia, e depender cada vez menos das pessoas. Pode ser que eu descubra que realmente sou fraco demais pra caminhar sozinho, e que preciso aprender a conviver em bando porque é o grupo; o coletivo que me dá as forças que muitas vezes não tenho. Ou não né...?

Pra encerrar, depois de ler tudo o que está escrito acima, vendo por um outro viés, eu comecei a rir: Ah, nós mortais, e nosso péssimo hábito de transferir nossas responsabilidades para os outros. É típico de idealistas, embora a problemática de fato exista, vendo pela outra cara da moeda, é muito mais fácil colocar a culpa de todas nossas frustrações no sistema e nas instituições quando na verdade, a culpa é do nosso pseudo-revolucionarismo que prefere se acomodar e se esconder dentro de um sistema, porque pra revolucionar, transformar e ser relevante, um preço muito alto precisa ser pago e poucos estão disposto a pagar e ficam por aí, com assuntos inacabados em redes sociais e escrevendo textos medíocres em blogs.

Vejam só que ironia, eu aqui protestando contra ter que abrir mão de si em favor do outro, sendo em essência é tudo o que este texto revela que eu mais quero: Ser amado pelo que sou, do jeito que sou. Todo mundo quer ser aceito, e amar implica tanto em se doar, quanto se esvaziar um pouco para que outro caiba em nós ainda que com tantas diferenças.

p.s.: É tanta contradição, que pedi que não espiritualizasse o texto mas tudo está interligado. O material, que conseguimos sistematizar em um texto como este e o transcedental o qual se busca todas as respostas que as interrogações do texto não conseguem expressar.

Reações:

Minha mãe lendo meu blog:














Minha vó lendo meu blog: (bença Vó)


 Meus amigos lendo o blog:




Pastor lendo blog:












VEM GENTE!